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Ricardo Cortez Lopes

VALE A PENA PUBLICAR EM REVISTAS DE QUALIS A1?

Atualizado: 28 de fev. de 2023



Por Ricardo Cortez Lopes*


À primeira vista, a frase do título soa estúpida. As revistas A1 seguem todos os critérios do ponto de vista burocrático com excelência, enquanto seus pareceristas garantem o critério no seu conteúdo. Assim, a revista empresta a você um pouco do brilho dela e valoriza o seu escrito, no mínimo diante de outros pesquisadores.


Mas isso não responde todos os sentidos possíveis da pergunta do título. Afinal, só falamos do resultado, do seu artigo já publicado. Porém, antes disso, nos bastidores acontecem muitas coisas e, no futuro, também podem ocorrer outras. Se olhar a questão por esses dois ângulos, a pergunta já não é tão estúpida.


Com relação aos bastidores, revistas A1 possuem muitas exigências, o que é normal e também louvável. Algumas até oferecem um template da formatação, mas outras só descrevem as normas no site e boa sorte. O grande problema nem é a exigência, mas sim que muitas revistas A1 (não todas, claro), por conta seu status, dão pouquíssimos feedbacks e se você errar algo vão dizer que seu trabalho está inadequado: o bebê vai junto com a água do banho. Mas isso é uma exigência em relação à forma; ainda existe outra em relação ao conteúdo.


Com relação ao conteúdo, muitos pareceristas se aproveitam do anonimato para serem bem cruéis: e o pior é quando dão feedbacks bastante imprecisos, às vezes com anos de demora, o que pode tirar a relevância de alguns artigos. E estamos falando das gratuitas; muitas revistas "A" cobram em dólar.


Ou seja, como tudo na vida que é bem feito e elaborado, publicar em revistas de alto impacto exige um investimento e reflexão. Caso você opte por revistas de estratos mais baixos, quais as vantagens e desvantagens?


Com relação à vantagem, vamos começar por uma característica das ciências humanas, que talvez não se aplique para as ciências mais duras. As revistas A1 afirmam que são destinadas a pesquisas de ponta, o que é muito justo. Mas e pesquisas sobre objetos que ainda não foram investigados? Elas não possuem ainda uma revisão bibliográfica ampla e o objeto ainda é um tanto tateante, porém existe a chance de esse objeto se tornar tendência no futuro, mesmo não sendo o paradigma atual. Nesse caso, a pesquisa tem menos qualidade por não estar numa revista A1? Foi isso que ocorreu com as ideias de Albert Einstein, que precisou publicar em revistas de estrato inferior e tem tido suas ideias comprovadas atualmente com os equipamentos atuais.


Outra vantagem é que a equipe editorial de revistas menores possui muitas vezes pesquisadores que estão buscando seu lugar ao sol, então elas traçam, às vezes, boas estratégias de divulgação. Mas sejamos justos: nem todo pesquisador se preocupa com divulgação. Então essa é uma vantagem circunstancial.


Outra vantagem é o feedback. É claro que existem as revistas que não entregam feedback e os pareceristas são igualmente cruéis, mas a revista precisa de seu artigo. Então existem chances maiores de se sugerir melhorias. Afinal, nem todo o artigo já vem pronto para publicação e falta apenas aparar arestas; muitas vezes um parecer pode levar um trabalho médio a se tornar excelente (novamente, Einstein prova que revistas que não são de ponta também podem possuir excelência).


Entre as desvantagens está a pior avaliação em concursos (muitas vezes são desconsiderados) e o fato, bastante lastimável, de a equipe ficar sendo trocada e seu artigo poder nunca ser publicado ou mesmo avaliado. Acredite, as equipes são muito efêmeras e muitas vezes os antigos membros não treinam os novos membros; então os novos membros nem sabem que existem artigos arquivados e prospectam novos. Por essa razão, mantenha o controle dos artigos enviados para revistas menores.


Eu, particularmente, não coloco como prioridade o estrato do periódico, sempre escolho pelo escopo da revista ou por um dossiê que foi aberto, pois o meu objetivo é chegar ao máximo de especialistas e interessados. Não me adianta de nada, penso eu, um artigo numa A1 que seja sumariamente ignorado por estar fora de um dôssie e que poucas pessoas vão ler; por isso a minha preferência é pelo escopo. No fim, todos os artigos vão para o mesmo lugar, o meu portfolio, e o mais visto não é algum artigo em A1, mas um artigo de anais de evento. É claro que visualização não é sinônimo de qualidade, porém o trabalho chegar a outras pessoas não pode ser encarado como algo negativo, pois a ciência continuará sendo feita por pesquisadores, então não se geram prejuízos significativos.


Afora esses aspectos que já mencionei, as avaliações vão jogando as revistas para estratos diferentes; é verdade que não são saltos bruscos, mas uma revista pode entrar em decadência e outras podem entrar em ascensão ao longo dos anos. E se no momento que eu precisar ser avaliado a A1 já for B3 e o artigo não for nem mesmo considerado no edital do certame? Essa situação não é impossível, pois há um componente de aposta que não pode ser ignorado quando vai se submeter um artigo; não se trata de uma jornada linear de escrever e publicar.


E você, como faz? Só revista top de linha? Ou você também leva mais em conta esses aspectos que mencionei? Comenta e vamos trocar uma ideia!



* Escritor e Pesquisador. Doutor, Mestre e Graduado em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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