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 RICARDO CORTEZ LOPES: 
O FUNDADOR DA REPRESONTOLOGIA

Prof. Dr. Ricardo Cortez Lopes

1) BREVES CONSIDERAÇÕES BIOGRÁFICAS

Ricardo Cortez Lopes, nascido em Porto Alegre-RS, Brasil, em 29 de junho de 1987, figura como um destacado professor, sociólogo, historiador, comunicador e pesquisador brasileiro. Ele é reconhecido como o formulador da teoria dos contextos representativos e o precursor da represontologia, um campo científico por ele delineado.

O sociólogo se distingue por sua abordagem eclética, abordando uma ampla gama de tópicos em suas obras, o que tem contribuído significativamente para enriquecer o debate público. Como resultado, suas pesquisas têm ecoado em diversos estratos sociais. Além disso, ele é frequentemente convidado para fornecer análises em veículos de mídia. Seus trabalhos também são incorporados ao acervo da biblioteca da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sua alma mater.

Proveniente de uma família de origem camponesa que migrou para Porto Alegre na década de 1970, ele desfrutou de uma criação de classe média. Sua educação primária e secundária ocorreu em uma instituição católica, onde cultivou uma profunda afinidade pelas ciências humanas. Ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2007, concluindo tanto seu mestrado quanto seu doutorado nessa instituição. Desde então, tem desempenhado um papel ativo no campo da educação, tanto em sala de aula quanto em iniciativas técnicas, inclusive desenvolvendo um aplicativo educacional.

Uma análise crítica do perfil do autor na Plataforma Lattes revela uma progressão em seu pensamento ao longo do tempo. Inicialmente, houve uma forte adesão aos preceitos dos clássicos da tradição durkheimiana, que evoluiu para um desejo crescente de diálogo com esses e outros autores, culminando na formulação de uma nova ciência.

 

2) AS FASES DA SUA PRODUÇÃO ACADÊMICA

 

A produção acadêmica de Ricardo Cortez Lopes pode ser dividida de forma sistemática em fases distintas, delineando não apenas uma progressão cronológica, mas também um amadurecimento conceitual que espelha sua complexa trajetória intelectual.

Essa segmentação facilita uma compreensão abrangente das contribuições do intelectual para diversas áreas do conhecimento, evidenciando sua habilidade de explorar e inovar em diferentes perspectivas teóricas e metodológicas ao longo de sua trajetória acadêmica.

 

A) Fase Escolar (2009-2019)

 

Durante o período compreendido entre 2009 e 2019, denominado como a fase escolar de Ricardo Cortez Lopes, sua área de formação reside na sociologia, com uma especialização direcionada para a Sociologia da Moral. Este campo, embora tradicional, havia sido largamente negligenciado desde o final do século XIX. Em linhas gerais, a Sociologia da Moral se dedica ao estudo das percepções de certo e errado como concepções compartilhadas pelos indivíduos.

 

Ancorado nesse referencial, o autor explorou uma ampla gama de tópicos, investigando diversos fenômenos e identificando até mesmo aspectos inéditos para a literatura da época.

Durante sua jornada universitária (que incluiu graduação, mestrado e doutorado), o acadêmico se concentrou no estudo da moral por meio das representações sociais, sendo fortemente influenciado pelas obras de Émile Durkheim e Serge Moscovici. Nessa fase inicial, reconhece-se que o autor apresentava alguns traços característicos de um pesquisador em estágio inicial, evidenciando-se em seus estudos. Este período abrange desde a publicação de seu primeiro artigo em 2009 até a produção de "Construindo Contextos" em 2019, ocorrendo praticamente durante todo o período de sua educação formal, visto que o referido livro foi lançado no penúltimo ano de seu doutorado, concomitantemente com "Personagens" (2019).

Os trabalhos desenvolvidos nesta fase adotaram uma abordagem de coleta de dados mais tradicional e suas conclusões apresentaram um escopo mais limitado. Além disso, houve um foco predominante em entrevistas e análises de documentos oficiais. É importante notar que, durante esse período, os trabalhos do autor estavam associados a projetos de pesquisa institucionais, contribuindo para iniciativas mais abrangentes dentro da instituição em que se formou: a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

 

B) Fase dos Contextos Representativos (2019-2023)

 

O período compreendido entre 2019 e 2022, delineado como a fase dos contextos representativos, caracteriza-se pelo desenvolvimento e aplicação da teoria elaborada pelo autor, voltada para a análise de contextos representativos com o intuito de extrair conclusões de natureza sociológica. Esta fase, que se estende até 2023, testemunha uma progressão na abordagem temática do autor, afastando-se progressivamente dos projetos de pesquisa institucionais para explorar uma diversidade de tópicos mais abrangentes. Representando um estágio mais experencial em sua trajetória, este período é marcado por uma transição para uma abordagem mais independente e exploratória.

Uma característica distintiva desta fase é a mudança na metodologia de coleta de dados, com a incorporação da internet como uma fonte direta de informações. Destaca-se ainda uma proliferação de estudos relacionados à ressignificação, embora esta ênfase seja posteriormente invertida na fase subsequente, quando o foco se volta para a própria representação em si.

 

C) Fase da Repræsontologia (2023-2024)

 

A terceira fase, denominada “da repræsontologia”, teve início em 2023 e continua em curso, com a produção contínua de estudos pelo autor. Em uma entrevista concedida a Gustavo de Biscaia de Lacerda, Ricardo Cortez Lopes mencionou que formular uma ciência seria um passo natural após o desenvolvimento de uma teoria. Nesta fase, o foco do autor volta-se para a natureza das representações, conduzindo estudos empíricos sobre elas e empreendendo esforços metodológicos, embora as técnicas possam permanecer as mesmas. Apesar das fases sejam distintas, persiste um pluralismo de temáticas. O estudioso das representações lançou a primeira edição do seu livro "Repræsontologia: fundamentos da ciência das representações" em 2024, no mesmo ano em que lança também o seu curso sobre o tema: "Introdução à Repræsontologia". O seu esforço atual é em divulgar, por diferentes meios, a Represontologia. Em junho de 2024, por exemplo, o autor apresentou a nova ciência criada por ele em uma live AOP no canal "Posistivismo", do sociólogo Gustavo de Biscaia de Lacerda.

O autor possui diversas obras publicadas abordando diferentes temas; porém três obras teóricas são fundamentais para compreender suas ideias:

  • "Construindo contextos: Uma contribuição sociológica para compreender a relação indivíduo e sociedade" (2019) - apresenta a teoria dos contextos representativos, que examina as representações sociais em movimento dentro de contextos socialmente construídos;

  • "Personagens: Entre o literário, o midiático e o social" (2019) - escrito em colaboração com a pesquisadora L. Yana de L. Martinez, este livro propõe um conceito de personagem como expressão das ideias centrais de grupos sociais, ilustrado por meio de estudos de casos como Hércules e Chapolin Colorado, entre outros;

  • "Represontologia: fundamentos da ciência das representações" (lançado em 2024) - apresenta uma ciência dedicada ao estudo direto das representações, oferecendo teorias e métodos.

 

Hodiernamente, essas obras constituem o cerne do pensamento do autor, servindo como referencial teórico para uma infinidade de estudos. Cada livro representa uma síntese dos estudos anteriores e uma base para pesquisas futuras.

 

3) OS TEMAS (MAIS) RECORRENTES

 

Ricardo Cortez Lopes elabora estudos sobre os assuntos listados abaixo, interrelacionando-os e promovendo uma continuidade entre eles que se alinha com seu objeto de estudo global, voltado para a elaboração de conceitos e teorias.

 

A) Educação

 

No campo da Educação, sua pesquisa concentra-se principalmente no Ensino Superior, abordando tanto as instituições quanto os pesquisadores, com um foco específico nas representações oficiais que podem ser tanto seguidas quanto contestadas, e como a prática educativa é moldada por essa interação.

Em relação à primeira vertente, Lopes concentrou seus estudos principalmente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sendo um dos pioneiros a investigá-la de forma contínua, dedicando-se tanto à instituição quanto aos seus membros.

Além disso, dentro desse contexto, ele examinou também o papel dos pesquisadores brasileiros atuando fora do ambiente acadêmico, com destaque para seu artigo sobre empreendimentos acadêmicos, que obteve quase 15.000 visualizações.

 

B) Comunicação

De acordo com uma entrevista concedida ao site The Crab, a intenção de Lopes era realizar análises em uma ampla gama de mídias, abrangendo jornais, livros, videogames, músicas, aplicativos, entre outros. Seu objetivo era demonstrar empiricamente a amplitude das representações e como elas se manifestam em diversas linguagens de maneiras infinitas.

Além da representação, um dos aspectos que fundamentam sua pesquisa nessa área é o conceito de personagens amplamente difundidos, sobre os quais ele já elaborou algumas análises.

 

C) Religião

 

Na área da religião, ele se dedica particularmente aos temas da secularização, do ateísmo e das religiosidades não institucionalizadas. O sociólogo vai argumentar que a religião produz representações que estão intrinsecamente ligadas à sacralidade e que conduzem ao transcendental.

Essa noção de transcendência, que não se restringe apenas ao âmbito religioso, possibilita a compreensão de uma das facetas da representação: sua normatividade. Assim, ao se estabelecer o que é considerado aceitável, é construído um referencial teórico que facilita a compreensão e a categorização das representações.

 

D) Ensino de Sociologia

 

O interesse do pesquisador também abrange a sociologia como uma disciplina relativamente recente, especialmente no contexto do ensino básico. A interseção entre sociologia e educação ressalta a importância da socialização e de uma forma de reflexividade secundária.

Nesse sentido, a pesquisa sociológica é considerada por ele como algo que é adaptado e simplificado em relação à sua metodologia e teoria subjacentes. No entanto, sua contribuição reside em demonstrar como a sociologia é transmitida fora dos ambientes educacionais formais, incluindo plataformas educacionais online, redes sociais, organizações não governamentais, entre outros.

 

E) Ficção

 

Na abordagem relacionada à ficção, originada a partir do livro "Personagens" (2019), os personagens são considerados manifestações de ideias presentes na sociedade, tornando-se, portanto, evidências empíricas.

Embora a ficção, do ponto de vista estritamente realista, não tenha uma existência histórica definida, é importante notar que a obra deve ser compreensível para seu público-alvo, o que implica que a ficção expressa representações circulantes de forma clara, possibilitando sua apreensão.

Dessa forma, a arte desempenha um papel crucial na construção e na transmissão de representações, constituindo referências significativas para a comunicação.

 

F) Esportes

 

Os esportes abordados pelo pesquisador, geralmente, estão centrados nos de combate, contudo, não nos institucionalizados e de alto rendimento, mas sim naqueles praticados pelos indivíduos que reproduzem essa atividade. Isso ocorre porque o alto rendimento estabelece referências para pessoas menos familiarizadas com as nuances da prática esportiva.

Os esportes fornecem ao analista uma oportunidade de perceber a emergência de representações, uma vez que envolvem rituais e referências morais que são desafiados pelas ações dos atletas. Para ele, a teoria do jogo é fundamental na análise dos esportes, sendo a imersão nas regras um dos aspectos relevantes, especialmente no contexto do esporte de alto rendimento.

 

G) Saúde

 

De acordo com Ricardo Cortez Lopes, os fenômenos relacionados à saúde tendem a atrair diversas representações, especialmente quando se manifestam em espaços públicos. Ele sustenta que tais locais frequentemente evocam outras representações, como as associadas à população, modernidade e universalidade, entre outras. Um exemplo disso é o estudo sobre homicídios ocorridos em instalações de saúde públicas, nos quais as instituições de saúde e as agências de segurança pública se confrontam.

Além dessas situações de interação entre os atores envolvidos, o autor também se dedica à conceituação da própria noção de saúde, explorando novas práticas que não são plenamente reconhecidas no âmbito da saúde convencional, o que gera tensões. Desse modo, para o autor, a saúde é um fenômeno biológico, mas também está intrinsicamente relacionada às representações individuais e grupais, as quais se entrelaçam com outras formas de representação.

 

H) Epistemologia

 

Ele também empreende discussões teóricas, desvinculadas diretamente de evidências empíricas, promovendo uma reflexão sobre a natureza do conhecimento em si, o que o aproxima de uma abordagem filosófica. Nesse sentido, ele aborda diversos sistemas filosóficos e epistemológicos, como o positivismo, o anarquismo e as teorias sociológicas, explorando esses temas em diferentes obras.

Ao contrário de Moscovici, Lopes sustenta que as teorias também são constituídas por representações e que buscam, na percepção dos analistas, minimizar os vieses e alcançar a maior objetividade possível. Portanto, ele aprecia a teoria como uma expressão das representações, realizando uma espécie de investigação empírica das ideias dos autores, ao mesmo tempo em que abre espaço para novas perspectivas ao torná-las objeto de análise.

É importante salientar que essas temáticas se apresentam entrelaçadas em seu repertório, e essa classificação é resultado de uma apreciação global de sua obra, considerando o que emerge de sua bibliografia analisada. A pluralidade de objetos abordados não impede, no entanto, a discussão teórica sobre o conhecimento humano, estabelecendo uma interlocução entre a filosofia e a sociologia.

 

I) Teoria dos Contextos Representativos

 

A Teoria dos Contextos Representativos, elaborada pelo sociólogo brasileiro Ricardo Cortez Lopes no livro "Construindo Contextos", publicado em 2019 pela editora Viseu, embora tenha recebido sua denominação de Nádila Albuquerque Luchini em uma resenha da obra, não é explicitamente nomeada no volume original. Esta teoria representa uma ampliação da Teoria das Representações Sociais, desenvolvida pelo psicólogo social romeno Serge Moscovici.

Em resumo, ela busca dinamizar as representações sociais ao investigá-las além do domínio da mente humana. Esta teoria marca o início da segunda fase do pensamento do autor, que passou a se concentrar na aplicação e consolidação desses conceitos. Duas curiosidades notáveis envolvem essa teoria: o autor expressou publicamente seu arrependimento por tê-la comercializado, reconhecendo que isso limitou sua disseminação devido à sua relativa novidade no meio acadêmico. Além disso, uma versão simplificada das ideias do livro serviria como referencial teórico para sua tese de doutorado, originalmente centrada no tema do trânsito religioso, que acabou sendo substituído pelo estudo sobre evasão escolar. Assim, o trânsito religioso foi incorporado como um exemplo ilustrativo da teoria, presente no último capítulo.

O termo "contextos representativos" refere-se ao ambiente construído pela coexistência e inter-relação das representações, permitindo sua mútua interação. A inspiração para essa teoria surgiu a partir de contextos virtualmente construídos, que fornecem evidências sobre a dinâmica social em si. Portanto, trata-se de uma perspectiva estritamente sociológica, que busca impulsionar as representações em movimento e promover sua interação mútua.

 

J) Antecedentes da teoria

 

O autor já estava familiarizado com a teoria das representações sociais desde seus estudos iniciais e, portanto, havia explorado profundamente as ideias de Émile Durkheim. Ao empregar as representações sociais em suas investigações sociológicas, Lopes percebeu a pertinência de compreender as representações desvinculadas de associações grupais específicas, buscando integrar elementos da sociologia do conhecimento durkheimiana.

Uma influência crucial foi a Teoria do Núcleo Central, elaborada por Jean Abric, além de estudos no campo da comunicação, como as obras de Sergio Bairon e Massimo Canevacci. Nesse contexto, as representações foram concebidas como construtos comunicativos com sua própria dinâmica contextualizada.

A OBRA "REPRESONTOLOGIA: FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA DAS REPRESENTAÇÕES" (2024) 

Dentro do espectro científico contemporâneo, identifica-se uma dicotomia entre disciplinas de recente formação, majoritariamente emergidas nos séculos XIX e XX, e aquelas de uma linhagem mais antiga. As últimas são heranças intelectuais, cujo desenvolvimento tem sido continuamente enriquecido por contribuições subsequentes. Lopes (2024), nesta obra que agora passa a ser de conhecimento de toda a comunidade acadêmica, instiga um mergulho profundo na origem de uma ciência específica: a repræsontologia, definida como a ciência das representações. O foco central deste livro é desvelar a gênese, estabelecer as bases teóricas e explorar os fundamentos que constituem o cerne desta ciência.

É amplamente reconhecido no campo acadêmico que o estudo das representações possui uma trajetória secular. Diante desta informação, surge a indagação: qual a necessidade de uma ciência dedicada exclusivamente a elas? Que novas perspectivas podem ser reveladas que permaneceram inexploradas até agora? O autor, em sua análise, argumenta que, historicamente, as representações foram examinadas primariamente como conceitos abstratos (em seus estágios iniciais), passando a serem entendidas como um fenômeno e, similarmente, como uma teoria. Lopes (2024), por meio desta obra, aspira a estabelecer as representações como um campo de estudo autônomo e distinto, uma área de investigação independente. Contudo, para atingir esse escopo, ele enfatiza a necessidade de estabelecer um conjunto de fundamentos epistemológicos e metodológicos robustos e coerentes.

O autor (graduado, mestre e doutor em Sociologia pela renomada UFRGS) tem demonstrado um envolvimento significativo no estudo das representações, empregando-as como um instrumento analítico em uma variedade de pesquisas abrangendo distintos objetos de estudo. Esta prática indubitavelmente facilitou sua introspecção sobre a natureza da representação em si. A utilização da representação como uma ferramenta analítica oferece insights profundos, especialmente no contexto de grupos sociais. Logo, sua proposta consiste em uma reflexão centrada diretamente sobre a ferramenta da representação, ao invés de focar exclusivamente nos resultados que ela gera. Este enfoque levou à formulação de sua "Teoria dos Contextos Representativos", que proporciona uma análise multifacetada de diversas representações sob uma perspectiva sociológica.

Insta constar que o Prof. Dr. Ricardo Cortez Lopes não está vinculado a nenhuma instituição acadêmica específica; ele opera independentemente de orientações institucionais (ou apoio financeiro) e continua engajado em pesquisas independentes sobre uma gama de temas. Embora colabore frequentemente com outros acadêmicos – como a Profa. Dra. Lis Yana de Lima Martinez – sua prática de pesquisa é caracterizada por um alto grau de autonomia intelectual. Ele mantém vínculos significativos com outros pesquisadores e, embora não interaja diariamente com o meio acadêmico, parece estar profundamente engajado na comunidade científica através de suas leituras e colaborações, sobretudo nas formas de livros e artigos.

Na seção introdutória de sua obra, o autor delineia um conjunto de referências intelectuais que fundamentaram a estruturação do livro, citando figuras eminentes como Umberto Eco, Charles Sanders Peirce, Max Weber e Émile Durkheim. Estes pensadores estão intrinsecamente ligados a três campos do saber que emergiram recentemente: a sociologia (inaugurada por Auguste Comte), a semiótica (desenvolvida no século XIX) e a cibernética (originada no século XX). Embora a ciência de dados, uma disciplina ainda mais contemporânea, pudesse ser considerada como uma influência, sua falta de um fundador específico e a intensa incorporação de tecnologia em suas práticas científicas tornam complexas as discussões epistemológicas associadas.

O livro se estrutura em três partes principais além da introdução, abrangendo capítulos distintos. A primeira parte consiste em uma revisão crítica das teorias existentes; a segunda estabelece as bases epistemológicas; e a terceira, por sua vez, dedica-se às fundações metodológicas e empíricas. Na introdução, também se esclarece a origem do termo "repræsontologia", uma variação de "representologia", empregando o prefixo "prae" para incorporar a letra científica "ӕ" e o termo grego "onto", referente ao “ser”. Assim, em vez de explorar a diversidade de representações, o foco recai sobre a natureza essencial da representação. Além disso, o autor propõe uma definição preliminar: a reprӕsontologia é uma ciência dedicada ao estudo empírico da natureza da representação em diversas mídias, seja através de casos específicos ou ao longo do tempo, visando desvendar sua composição e entender como o ser humano representa. A seguir, cada uma dessas partes será analisada mais detalhadamente.

Na primeira seção do livro, o autor empreende uma revisão bibliográfica de natureza conceitual, examinando diversas teorias (de eminentes intelectuais) e interpretações sobre a representação. Esta investigação revela que o debate sobre representação é milenar, estendendo-se desde a antiguidade até os tempos hodiernos, e transcende a concepção reducionista que a limitava às discussões da década de 1960 no campo da psicologia social. A análise inclui as perspectivas de pensadores como Baudrillard, Moscovici, Durkheim, Chartier, entre outros, culminando na percepção de que a representação é um elemento transversal a todas as disciplinas acadêmicas, desde a matemática até a psicologia.

Através desta revisão, o autor identifica três categorias fundamentais de representação: a Realista, que entende a representação como uma forma de conhecimento; a Relativista, que se concentra na distinção entre a representação e o objeto representado; e a Negacionista, que vê a representação como um desvio do conhecimento verdadeiro. A argumentação central é que estes intelectuais, tradicionalmente, utilizaram a representação como um conceito ou, no máximo, como um fenômeno, mas primariamente como uma ferramenta auxiliar para enriquecer as pesquisas em suas respectivas áreas. Aqui reside uma das primeiras virtudes significativas do livro: a compilação extensiva de representações já teorizadas, oferecendo um rico ponto de partida para qualquer pesquisador interessado no tema.

A segunda parte do livro se aprofunda na fundação epistemológica, explorando a autonomia das representações em relação a outros objetos de estudo. As teorias existentes, embora diversas, não se coalescem em um quadro mais amplo. O autor examina duas teorias específicas para ilustrar essa limitação: a teoria do núcleo central (de Abric) e sua própria teoria dos contextos representativos. Enquanto a primeira concentra-se na representação em si, abordando seu núcleo e periferia, mas falhando em capturar sua variedade e dinâmica, a segunda abarca esta variedade e dinâmica, mas com um enfoque sociológico que restringe seu campo de estudo. Neste contexto, o autor propõe uma questão crucial: existe uma "vida representacional"? Partindo de Moscovici, ele defende a autonomia das representações, desvinculadas dos indivíduos, e define a "vida representacional" como um conjunto de representações sustentadas, nutridas e comunicadas por um indivíduo, que o conectam a relações de sobrevivência e experiência.

Esta dinâmica, ao longo da biografia do indivíduo (ou grupo) cria um histórico, permitindo que as representações gerem evidências passíveis de estudo acadêmico. Esse entendimento abre caminho para múltiplos níveis de análise e diferentes objetivos científicos. A representação é definida preliminarmente como uma tentativa de duplicar um referente, seja ele existente ou conceitual, por meio de uma formulação que associa algo a outro elemento, exemplificado na fórmula x = y. Esta duplicação é vista como uma forma ou modulação que interage com a realidade. O conceito de "referente" é crucial, referindo-se ao objeto de representação, ainda que seja elusivo. O livro diferencia representações mentais/individuais, ligadas ao pensamento individual e ativadas por estímulos sensoriais, das relacionais, que são comunicadas. São propostos modelos para estudar essas tipologias e compreender o funcionamento das representações.

Dada a complexidade do fenômeno, o autor apresenta várias abordagens para estudar representações. A Represontologia referencial foca na origem das representações, enquanto a Representologia se concentra na representação em si, seja mental (interna à mente individual) ou relacional (compartilhada e interpretada). A Representologia dinâmica analisa a interação entre representações, e a Representologia Elementar examina seus elementos internos em uma perspectiva nanoscópica, sem recorrer a modelos pré-estabelecidos. Por fim, há a possibilidade de investigar outros elementos constituintes das representações.

Na terceira e última parte do livro, o autor se concentra na metodologia e na empiria, estabelecendo reflexões sobre a abordagem da representação e delineando regras que formam a base do método proposto. A primeira regra sustenta que as representações devem ser vistas como moldes moldantes, modulando a realidade e facilitando a comunicação, seja ela presencial ou não. A segunda regra considera as representações como entidades autônomas, comparáveis a "indivíduos". A terceira regra sugere que o conteúdo de uma representação deve ser examinado comparativamente, utilizando um processo indutivo. A última regra enfatiza que as representações são observáveis em diversas escalas, do individual ao relacional.

Com esses princípios estabelecidos, o autor explora métodos para investigar as diversas representações encontradas na realidade empírica, ressaltando a necessidade de uma abordagem específica para cada perspectiva. A obra conclui discutindo a posição da reprӕsontologia entre as ciências estabelecidas, inspirando-se na prática durkheimiana de apresentar textos a grandes públicos e responder perguntas. O autor encerra com uma série de perguntas e respostas sobre o enfoque e as distinções das representações em relação a outros fenômenos, servindo como uma introdução ao campo.

A obra permite uma análise crítica tanto das virtudes quanto das limitações da reprӕsontologia. Uma virtude-chave é a exploração de um nicho específico: a representação, uma ferramenta amplamente utilizada, mas pouco analisada. O esforço do autor em cobrir todos os aspectos possíveis, embora abra espaço para críticas sobre possíveis inconsistências, também é uma força. A ciência tem potencial agregador, transcendendo os limites da comunicação e cognição humana, mas isso também atrai críticas, especialmente de campos estabelecidos.

Entre as críticas, destaca-se a incerteza sobre a classificação disciplinar da reprӕsontologia e sua dependência inicial de conceitos de outras ciências, o que pode afetar sua autonomia. Além disso, a representação, sendo abstrata, pode enfrentar desafios para estabelecer sua legitimidade e relevância. A falta de vínculos acadêmicos do autor pode ser um obstáculo, embora sua abordagem inovadora ofereça reflexões valiosas para a prática científica.

O livro também apresenta características ambíguas. A ausência de citações, por exemplo, torna a leitura mais fluída, mas pode diminuir o reconhecimento de contribuições anteriores. Finalmente, em uma era dominada pela informação e propaganda digital, a reprӕsontologia pode oferecer insights cruciais para entender o conhecimento humano, mesmo que o esforço para desenvolver um sistema tão complexo possa ser questionado.

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