Por Audi Roberto Rodrigues*
No dia 8 de janeiro, todos nós brasileiros, que defendemos os valores democráticos e republicanos, ficamos estarrecidos com os atos de vandalismo, violência e, em último caso, a tentava de golpe imputada contra as instituições e o Estado de Direito. O domingo de terror que assolou a capital federal, de repercussão mundial, tinha um objetivo claro: um Golpe de Estado.
Os ditos “manifestantes” vieram de várias partes do Brasil, encorajados e incentivados por um discurso de não aceitar o resultado eleitoral do dia 30 de outubro do ano passado (com a vitória do Presidente Lula nas urnas) e lutar por uma ruptura institucional, chegaram ao ponto máximo de extremismo e do golpismo.
Vale ressaltar que toda essa gente que ficou mais de um mês em frente a quarteis, pedindo intervenção militar — ou seja lá qual for —, foram financiadas por empresários de várias partes do Brasil e que esses incentivos a atos como esses não passem impunes e que todos sejam julgados e devidamente punidos na forma da lei.
Há, nesse sentido, apenas uma explicação para o horror que vislumbramos no começo do ano: a materialização do ódio e da violência e a tentativa de engendrar uma guerra entre os brasileiros. Por sorte, os golpistas não tiveram sucesso em sua investida autoritária: uns tantos deles já estão presos e respondendo na justiça pelos crimes que cometeram. São momentos como esses que a nossa democracia passa por prova de fogo — e esperamos que sigamos assim: amadurecendo e reprimindo o que não fizer parte do jogo democrático.
Prejulgamos aqui que o ensaio geral dos atos que vimos foi o dia 12 de dezembro. No dia da diplomação da chapa vencedora, os extremistas fizeram um verdadeiro terror na capital federal e o mais grave de tudo: não tiveram nenhum tipo de retaliação criminal, o que, a nosso ver, encorajou ainda mais para o que planejavam mais adiante. Tudo isso acobertados por autoridades que deveriam fazer seu papel institucional e punir devidamente os criminosos que ensaiavam o Golpe de Estado, tornando-se cumplices dos fanáticos e colocando em risco a normalidade democrática do país.
Assim o 8 de janeiro foi arquitetado não só pela ala mais “ ideológica” do que aqui chamamos de “bolsonarismo”, que é dita como a mais radical, mas é evidente que figuras do alto escalão tiveram influência direta no ocorrido. O polêmico documento encontrado na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, evidencia sobremaneira que o golpe começaria com a invasão à praça dos três poderes e terminaria com a leitura de tal documento. A questão que se coloca é de quem iria dar esse próximo passo e o porquê não deu?
Na minuta, ficava sobre Estado de Defesa o Superior Tribunal Eleitoral para: “Com o objetivo de garantir a preservação ou pronto estabelecimento da lisura e correção do processo eleitoral de 2022". Em outras palavras, as eleições seriam anuladas. A ideia era estabelecer no Brasil um Estado de Defesa que pudesse impedir a posse do presidente eleito e dar início a um Golpe de Estado, que, na nossa visão, teria um líder (fortemente envolvido): Jair Bolsonaro.
Mesmo fora do país, podemos sem a menor dúvida apontá-lo como um dos responsáveis pela barbárie do dia 8, seja pelas falas golpistas que fomos corriqueiramente acostumados a ouvir do então Presidente, seja até por empresários que ligados a ele financiaram todos os que participaram dos atos, desde os acampamentos até o fatídico dia.
O apoio dos militares seria o passo que Bolsonaro esperava para imputar o golpismo. Ao menos não se sabe se alguma ala militar, do alto escalão, seja da marinha da aeronáutica ou exército, teria interesse em patrocinar tal aventura; o que se sabe é que grande parte dos Coronéis e de outros de baixa patente comungavam do mesmo desejo.
Sendo o amparo dos militares fundamental para que tivesse sucesso na investida antidemocrática, o ex-presidente, não conseguindo o apoio mássico por parte deles, viu-se em uma situação difícil em que uma tentativa de golpe malsucedida acarretaria inevitavelmente em sua prisão.
Evidente que o golpe fracassou não apenas pela não entrada dos militares na aventura autoritária, mas também e, sobretudo, pela reação da sociedade civil e da constituição de 1988, que, desde o início, impediu Bolsonaro e seus asseclas de corroer nossa democracia e nos jogar na incerteza institucional.
O que aprendemos com isso é que a nossa jovem democracia ainda passara por momentos conturbados como esses, mas que podemos juntos transformar nosso Brasil em um país que não aceita mais o fantasma do golpe e que caminha para ser um país soberano com respeito aos seus povos e em suas mais plurais formas de ser brasileiro.
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* Pesquisador do Núcleo de História e linguagem contemporânea. Graduando em Historia pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
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