Por Alexandre Gossn*
O atual presidente do Brasil está prensado entre dois gigantes no conflito Washington x Pequim, tendo que lidar com o desafio de se manter equidistante dos dois países que têm maior peso econômico e político em suas relações com o Brasil.
Em outras palavras, o grande desafio de Lula na visita aos EUA será equilibrar a aliança com Washington sem melindrar Pequim; e, ao mesmo tempo, manter o terreno seguro para deixar a Casa Branca e pousar na China semanas a seguir e não deixar melindres em Biden.
É fácil? Nunca foi tão difícil!
As acusações (não sabemos se verdadeiras) do Departamento de Estado norte-americano de que o governo chinês espalhou balões de espionagem pela América Latina e do Norte foram divulgadas justamente na véspera do pouso da comitiva brasileira nos EUA.
Lula – como ser humano – tem muitos defeitos, mas o Luís Inácio político tem uma virtude que até seus detratores admitem: habilidade política. Saber ser um malabarista para não aderir automaticamente a nenhum dos dois (EUA e China) é o que se espera do governo brasileiro neste momento.
As duas super potências são os maiores parceiros econômicos do Brasil e ambas têm relevância estratégica geopolítica e econômica a longo prazo ao nosso país.
Se a China tem se revelado nossa maior parceira econômica e tecnológica de alguns anos para cá e promete ser cada vez mais a mola propulsora do desenvolvimento brasileiro, há que se recordar que o apoio que o governo Biden deu contra a ruptura democrática e institucional ao TSE e ao governo recém-empossado é algo a jamais ser subestimado. Grande parte das Forças Armadas não embarcou no golpe no dia 12/12 e no dia 08/01, justamente por ter assimilado que a ruptura teria colocado o governo golpista em rota de colisão com os EUA.
Por outro lado, os interesses norte americanos esbarram no campo bélico na OTAN e no campo econômico em uma certa insistência imperialista e protecionista (especialmente governos democratas), onde ao Brasil, estar próximo de China, Índia, Rússia e África do Sul, integrando uma aliança no modelo do BRICS, é uma oportunidade que não pode ser renunciada.
Se, de fato, o BRICS lançar uma moeda, esta pode se tornar a maior notícia monetária do mundo desde a criação do euro, em um grupo político e econômico que reuniria os dois países mais populosos do mundo, 3 das quatro maiores forças armadas do mundo, o maior produtor de alimentos do planeta e ávidos possíveis novos integrantes para se juntar ao chamado "Sul global".
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* Pesquisador e Doutorando em Ciências Sociais junto ao Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra, com ênfase em Filosofia Política e Autoritarismos Contemporâneos. Escritor, Mestre em Direito e Advogado.
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