O MÁSKARA E A REPRESENTATIVIDADE
- Ricardo Cortez Lopes
- 17 de ago.
- 2 min de leitura
Por Ricardo Cortez Lopes*
A série “Represontologia da Cultura” apresenta artefatos culturais analisados pela Represontologia — a ciência das representações. O objetivo é demonstrar aplicações dos conceitos e, ao mesmo tempo, sugerir caminhos para pesquisas futuras a quem deseja aprofundar-se no campo.
O personagem escolhido para este post é o Máskara. Sua trajetória começou nos quadrinhos da Dark Horse, na década de 1980, em histórias marcadas pela violência e pelo caos. Nessa primeira versão, a máscara — inspirada em elementos do vudu — circulava de rosto em rosto, desencadeando tragédias inevitáveis. Posteriormente, a narrativa foi ressignificada ao chegar ao cinema como comédia, graças à associação com Loki, o deus nórdico da trapaça. Nesse contexto, encontrou em Jim Carrey um rosto ideal: um verdadeiro produtor de representações por meio da expressividade corporal e facial (Carrey, por sinal, será tema de outro post). Hoje, o personagem pertence à DC Comics, e já dividiu cenas até com o Batman.

Tanto nos quadrinhos quanto no cinema ou na animação, o ponto central é o mesmo: a máscara concede ao usuário a capacidade de metamorfose quase ilimitada, sem nunca perder a referência do rosto. Em alguns episódios do desenho animado, afirma-se diretamente que o poder do Máskara deriva da força da imaginação. Isso significa que ele externaliza uma representação interna em segundos, transformando o invisível em espetáculo visível. Como metamorfo, tal como Shang Tsung, pode imaginar um foguete e tornar-se um foguete; contudo, trata-se de uma representação parcial — pois ele não reproduz integralmente o funcionamento real daquilo em que se transforma (não realiza, por exemplo, uma reação química capaz de provocar uma explosão em larga escala).
Essa limitação é fundamental para uma leitura represontológica: o Máskara obedece a critérios de nitidez representacional, isto é, sua forma expressa será mais ou menos fiel às condições de sua mídia e ao corpo do usuário (no caso, Stanley Ipkiss).
Outro aspecto decisivo é que o usuário não detém pleno controle sobre a máscara. Uma vez colocada, ela atua como a materialização direta do ID, liberando impulsos e desejos inconscientes sem submeter-se às regras sociais. Não há necessidade da mediação coletiva da divisão social do trabalho para que ele se torne o que imagina: não é preciso alguém forjar-lhe uma espada, outro fabricar-lhe uma armadura e outro ensiná-lo a lutar para que ele se converta em cavaleiro medieval. O ato imaginativo basta, e um terceiro ser emerge — autônomo, com representações próprias.
Ainda assim, essa autonomia não é absoluta: a máscara se alimenta da memória cultural do usuário. É por isso que o Máskara de Stanley Ipkiss remete constantemente aos desenhos animados do século XX — um repertório de imagens e referências que molda os limites e as possibilidades de suas representações.
Em síntese, o Máskara não é apenas um personagem de quadrinhos ou cinema, mas um caso rico para a Represontologia: um dispositivo narrativo que encarna a tensão entre imaginação, memória, desejo e forma representacional.
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* Escritor e Pesquisador. Doutor, Mestre e Graduado em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.




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