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A VIRALATICE LIBERAL, AS LOJAS AMERICANAS E A SUA (PROVÁVEL) FRAUDE

Atualizado: 10 de fev. de 2023




Por Alexandre Gossn*


O caso envolvendo a (probabilíssima) FRAUDE nos balanços das Lojas Americanas evidenciam a viralatice liberal que nós brasileiros temos em papagaiar os norte-americanos em relação ao mercado; como se a corrupção nascesse DENTRO DO ESTADO e JAMAIS na INICIATIVA PRIVADA.


Alguns pontos (FATOS) importantes:


a) ninguém sabe até agora a dimensão do rombo, que seria entre 20 a 40 bilhões de reais.

b) a cobertura da mídia tradicional é claramente pró-mercado, divulgando o mínimo possível e sem se aprofundar nas questões estruturais;

c) ocorreu mudança suspeita da diretoria poucos meses antes do rombo vir à tona;

d) há suspeita forte de que ocultar o rombo envolveu omitir operações bancárias monstruosas e suas despesas operacionais;

e) duas das maiores empresas de auditoria do MUNDO não "acharam" esse rombo de "somente" 20 bilhões...

f) a última destas empresas de auditoria foi justamente quem auditou a Eletrobrás antes da privatização...

g) o grupo controlador das Lojas Americanas é também um dos grupos que mais força faz pela privatização dos correios...

h) a CVM nunca sequer suspeitou do maior rombo (fraude?) da história do mercado de capitais do país... E mesmo assim o mercado segue defendendo mais e mais desregulamentação.

i) é provável que os executivos responsáveis (ou co) pelo rombo tenham se beneficiado com bônus de dezenas de milhões de reais com os resultados fictícios...

j) é provável que a própria empresa tenha recolhido tributos / impostos sobre resultados inexistentes... Enquanto pequenos credores e funcionários agora correm o risco de ficar a ver navios...


MINHAS PONDERAÇÕES:


As maiores catástrofes econômicas quase sempre decorrem de DESREGULAMENTAÇÃO irresponsável ou SUBFISCALIZAÇÃO.


Crises como a da TULIPA (Holanda, 1637), o CRASH da bolsa (NY, 1929) ou a SUPRIME, em 2008, são marcadas por GANÂNCIA, BOLHAS e/ou FRAUDES auxiliadas pela baixa da guarda das agências reguladoras ou do Poder Público.

No caso da SUBPRIME, poucos se recordam, mas os presidentes Bill Clinton e George W. Bush empunharam as pás que cavaram o fosso em que os devedores foram parar, ao aprovarem no final dos anos 90 e começo dos anos 00 o desmantelamento de uma série de normas que preveniam a DESREGULAMENTAÇÃO pura e simples do mercado bancário dos EUA.


Não sabemos ainda o que houve nas Lojas Americanas, mas a maioria dos economistas aponta para questões mais prosaicas como FRAUDES GROSSEIRAS nos balanços, omitindo-se operações bancárias e outros passivos.

E a mídia não só não divulga amplamente o que está ocorrendo, como faz uma cobertura claramente enviesada ao mercado, ocultando por exemplo que entre os maiores credores estão bancos PÚBLICOS e que possivelmente funcionários podem ser demitidos e não receber o que têm direito.


Vejam, não sou contra o mercado. Ao revés, defendo o livre mercado (não o libertário ou anárquico), e, sob algumas perspectivas, o liberalismo, mas o que está ocorrendo no país é uma guinada suicida em direção a um anarcocapitalismo. O liberalismo sem regulação ou a sociedade de mercado absoluta não deram certo em lugar nenhum.


O mais absurdo não é necessariamente a existência da fraude, mas ela ter persistido por provavelmente anos debaixo do nariz da iniciativa privada (o próprio corpo executivo da empresa + os auditores + os bancos privados), bem como ter ficado incólume na alça de mira da CVM.


Se esse rombo fosse na Petrobrás ou em qualquer empresa com participação do Poder Público, as manchetes estariam pedindo não somente a cabeça dos diretores, como a privatização imediata.


Em 2008, uma das saídas para debelar a crise foi o governo dos EUA estatizar algumas companhias ao menos parcialmente, vide o caso da GM. Isso foi feito na contramão do pensamento liberal típico dos norte-americanos dado o risco sistêmico, ou seja, era melhor injetar dinheiro público para salvar empregos e a cadeia econômica do que deixar imperar os preceitos puramente liberais da sobrevivência do "mais apto".


Mas essas manobras não foram feitas apenas privatizando os lucros e socializando os prejuízos: o governo dos EUA passou a ser acionista de várias empresas, incluindo a GM.


Não estou afirmando que essa solução deveria ser praticada no Brasil. Não tenho dados e não sou expert na área, mas tanto para PREVENIR novas LOJAS AMERICANAS, como para REMEDIAR o que houve, seria importante a sociedade mirar as soluções que melhor beneficiam a coletividade sem se curvar às ideologias.


Vivemos em uma era em que só chamamos ideologia quando o conjunto de ideias não defende o mercado acima de tudo, sem nos darmos conta de que o mercado é acima de tudo uma ideia (que pode ser bem usada), e a sua defesa intransigente não passa também de uma ideologia (e cheia de furos).


Tags: #Informação #Liberalismo #PoderEconomico #Economia #PoderPúblico #Fraude #Mercado #LojasAmericanas #Fraude * Escritor, Pesquisador, Doutorando em Estudos Contemporâneos pelo Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra, Mestre em Direito Ambiental pela Universidade Católica de Santos, Urbanista e Advogado.

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