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TRABALHAR NA INICIATIVA PRIVADA OU NO SETOR PÚBLICO: VANTAGENS E DESVANTAGENS DE CADA UM

Atualizado: 17 de dez. de 2023



Por Ricardo Cortez Lopes*


Você provavelmente já ouviu de parentes e amigos que deve buscar um concurso. O benefício principal seria a estabilidade, e principalmente os profissionais da educação vão te dizer isso. Mas já que temos esse espaço para refletir, podemos perguntar: será que essa questão é tão simples? Vamos analisar os prós e contras de trabalhar no setor público e na iniciativa privada.


Cabe ressaltar que este não é um texto científico propriamente dito, pois estou o montando com base nas minhas vivências (já trabalhei em ambos segmentos) e nas perguntas que faço para as pessoas – mostrei esse texto para funcionários públicos e privados antes de mandá-lo para o blog desse instituto maravilhoso. Mas antes, vamos derrubar alguns mitos.


O primeiro é que nem todo trabalhador do setor público é concursado. Para que possamos entender de uma maneira mais fácil o funcionamento do serviço público no Brasil, devemos diferenciar os vínculos empregatícios mais comuns: estatutário (da Administração Direta, Autarquias) e Empregado Público/Funcionário Público (contratado via Consolidações das Leis Trabalhistas – Carteira assinada, para fundações, entre outros). Existe uma diferença entre concurso público e processo seletivo público: o Concurso Público é realizado para a contratação de servidores estatutários e o processo seletivo atende as contratações “por tempo determinado” (com duração contratual) e contratação CLT.


Também nem todos os concursos pagam tão bem assim em relação ao mercado, e já vi muitos professores da educação básica reclamarem de seus planos de carreira ao longo de suas vidas. Ou seja, não podemos tratar os concursos de maneira tão igual, existe muita disparidade de acordo com a função, a esfera de trabalho, o poder para qual se trabalha, etc. E, dentro disso, existe a questão das áreas, que também variam bastante; é só dar uma pesquisada em alguns editais que você vai ver.


Outro mito é de que na iniciativa privada funciona apenas pelas habilidades na sua função. Sim, o desempenho técnico é importantíssimo, porém ainda existem as soft skills, que são as habilidades de relacionamento, uma tendência na área de Recursos Humanos. Nessa perspectiva, não adianta você ser muito bom no que faz se for causar transtornos para os seus colegas na convivência diária ou não souber trabalhar em equipe. Assim, a lógica é que faz mais sentido ensinar uma pessoa que deseja aprender e não sabe do que uma que já sabe e não quer aprender mais nada.

Agora podemos ir para a lista. No setor público, as vantagens ofertadas comumente são, além da estabilidade (pois não é possível ter estabilidade e FGTS), as seguintes:

· Salário equalizado entre homens e mulheres: independente de idade ou qualquer fator subjetivo como experiência prévia.

· Começo de carreira mais bem remunerado: pois não existe aquela incerteza que se tem com iniciantes na iniciativa privada, pois todas as condutas estão previstas em edital.

· Não depender da demanda de mercado para sua instituição existir: e mesmo que sua instituição deixe de existir, você obrigatoriamente será deslocado para outra, o que é válido somente para estatutários, com estabilidade adquirida após 3 anos de efetivo serviço prestado.

· Financiamentos: você encontrará financiamentos mais em conta e com juros menores para adquirir um imóvel ou um bem de elevado valor financeiro. Isso ocorre devido à remota possibilidade de perda de vínculo empregatício.


De desvantagem, podemos arrolar algumas também:

· Estagnação na carreira: pelo fato de não existir a possibilidade de mudança de cargo sem outro concurso, o que ocorre é somente mudança de funções, desde que previstas no cargo ou mediante gratificação pecuniária/financeira específica. Aí começa o carrossel: um gestor com bons resultados acabará sendo substituído fatalmente por outro colega em algum momento – e isso pode ser ruim para o trabalho de todos.

· Estagnação salarial: A falta de uma regulamentação constitucional ou no estatuto do serviço público de data base que regulamente negociações para ajustes salariais e/ou reposição da inflação faz com que o salário do servidor público fique defasado em curto prazo, podendo ocasionar greves.

· Fator político em muitos cargos: você pode conviver com cargos comissionados que muitas vezes possuem laços fortíssimos com partidos políticos e que adquirem enorme influência sobre o seu trabalho.

· Engessamento de procedimentos e dificuldade de implementação de novas ferramentas de trabalho: desde promoções até acréscimos na equipe, esses procedimentos acabam sendo demorados; muitos gestores, por isso, acabam utilizando do próprio dinheiro para reparos do ambiente de trabalho; por essa mesma burocracia, parte da progressão funciona por certificados, que é um papel que diz que você sabe fazer o que sabe fazer.

· Poucas oportunidades: você precisa esperar abrir o concurso de seu interesse e enfrentar uma grande competição. Geralmente, as pessoas levam alguns certames para serem aprovadas. Além disso, isso também gera sobrecarga de trabalho, devido à supressão de funções e diminuição nos concursos públicos.


Já no setor privado, as vantagens são as seguintes:

· Dinamismo: como a instituição precisa se adaptar às mudanças sociais, muitas reestruturações são feitas, e você acaba aprendendo novas habilidades que podem ser utilizadas para outras áreas da vida.

· Redes profissionais: na iniciativa privada, as cadeias de processos são maiores, o que envolve mais indivíduos e potencializa a formação de redes de múltiplas áreas, com a execução de projetos;

· Investimento em equipamento: geralmente as empresas privadas investem mais nas condições de trabalho de seus funcionários por uma questão de sobrevivência, pois se ele não conseguir render a empresa pode parar os seus processos.

· Salário negociável: não tem como negociar seu salário em um concurso público, a remuneração está prevista em edital. Na iniciativa privada você tem mais ou menos margem para negociar, de acordo com sua experiência, formação, indicação, etc. É claro que isso vai ser prejudicial para quem não tem barganha, mas isso é outra história.


De desvantagens da iniciativa privada, cito algumas:

· Vulnerabilidade: você pode ser substituído rapidamente por outra pessoa, embora isso não seja tão simples na prática (como as pessoas costumam pensar), já que também custos são gerados para se treinar uma pessoa nova na função; mas, mesmo assim, você está sujeito à falência ou a venda da empresa e aí não tem o que fazer a não ser enviar currículos.

· Inconstância: o dinamismo é uma arma de dois gumes, uma vez que a rotina é o que ajuda a realizar trabalhos mais expressivos, que levam ao reconhecimento mais rapidamente; não é impossível conseguir se destacar em um ambiente de inconstância, mas é um pouco mais difícil;

· Incerteza: você de fato não sabe o dia de amanhã (para o bem e para o mal), e isso pode ser desesperador para algumas pessoas, incentivando sua ansiedade se você for uma pessoa mais preocupada;

· Desconfiança inicial: o começo de carreira é sempre difícil porque você não tem a experiência e indicações, mesmo tendo a qualificação, e essa falta de experiência coloca nos recrutadores a dúvida se você possui as soft skills. Isso se reflete no seu salário em um primeiro momento, até você ganhar confiança.


Esses são alguns aspectos que consegui elencar, porém isso não impede de você discordar ou adicionar outros itens de acordo com a sua experiência ou estudos. Lembrando que existem muitos perfis de pessoas, então vai ter gente que não sofre com a incerteza, e já vi muita gente que não aguentou o serviço público e se mudou para outros países. Já vi também muitos procurarem o serviço público em momentos de oscilação econômica – pois a segurança financeira e jurídica proporcionada ao servidor público pode direcionar o profissional para a área desejada ou propiciar que ele consiga melhorar o seu currículo, aumentando seus conhecimentos e habilidades – para que, assim, pudesse retornar à iniciativa privada para virar um empreendedor ou disputar a vaga de trabalho desejada. Enfim, só queria fazer um exercício de reflexão, que é um pontapé para que todos possamos pensar juntos.



* Escritor e Pesquisador. Doutor, Mestre e Graduado em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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