Por Alexandre Gossn*
A política no mundo civilizado contém dois ciclos importantes, que penso que ficaram muito claros na imagem do presidente e do governador de SP durante a tragédia de São Sebastião.
Como a democracia se pauta por uma plêiade de valores como a proteção das minorias, garantia de que os derrotados não serão massacrados pelos vitoriosos e possibilidade de que quem perdeu possa vencer nas eleições seguintes, é fato que o sistema democrático não prescinde destas duas fases:
i) a fase da PARTE
ii) a fase do TODO
A fase da parte é a fase das eleições, da escolha do eleitor e daí a etimologia da palavra: quem disputam as eleições são os PARTIDOS, ou seja, representam uma PARTE das aspirações da sociedade.
Superadas as eleições, surge a fase de TODO: os partidos eleitos ou suas coligações são empossados e passam a governar. E o governo governa o TODO, e não a parte.
Não importa se odiamos Lula ou detestamos Tarcísio de Freitas; ou mesmo se não gostamos de nenhum dos dois ou se apreciamos ambos: um é presidente do Brasil e o outro o governador do mais populoso e rico Estado do país. Entre as funções institucionais de ambos está a de governar para TODOS.
E foi o que fizeram nesta semana durante o auxílio às vítimas da pior tempestade da história do país, criando certamente mais que o símbolo do ano, mas uma imagem poderosa e civilizada para um país que sofreu uma tentativa de golpe há pouco mais de um mês e assistia pessoas sendo assassinadas em festas de aniversário porque gostavam mais de um político do que de outro.
O presidente e o governador, com o ato, ajudam restaurar a NORMALIDADE e a política do TODO, que vigora nas principais nações democráticas do mundo (e que deveria ter ocorrido durante a Pandemia do coronavírus).
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* Pesquisador e Doutorando em Ciências Sociais junto ao Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra, com ênfase em Filosofia Política e Autoritarismos Contemporâneos. Escritor, Mestre em Direito Ambiental e Advogado.