Por Elbert Agostinho*
Há algum tempo não exercitamos nossa análise fílmica... Então, de repente, Creed 3 nos atravessa...
Alguns dirão: o que eu poderia aprender com um filme de boxe? Toda narrativa nos ensina algo. Nas palavras de Anansi:
"Os fios estão todos lá, mas você quer enxergar?"
Começamos com a seguinte premissa:
Adonis Creed não gosta de falar do passado.
Adonis Creed não quer falar sobre o passado.
Adonis Creed não consegue falar sobre o passado.
Então seu passado, que aparentemente estava guardado (trancafiado), te visita, vai na sua casa, conhece sua família e depois te dá um soco na cara... Seriam metáforas interessantes, se não fosse parte do roteiro do filme. Mas, sem revelar muita coisa, provocamos: se seu passado bate com força na sua cara, você faz o que? Sai correndo? Um dos eixos do filme é a dificuldade de lidar com seu "eu" anterior. Aquele que você talvez nem conheça mais...
Temos discutido bastante sobre o poder da negitude, e Creed 3 evoca muitas questões relacionadas aos nossos estudos.
Começamos pela mãe de Adonis, que ao "esconder" algumas informações do filho (no sentido de poupá-lo e/ou ajudá-lo), é mal interpretada... Isso nos faz pensar no universo que mães pretas carregam nas costas, para que nós, ainda pequenos, não tenhamos preocupação com nada, conseguindo dormir e acordar felizes... Tal como a música do Emicida:
"Vai dar maior treta, quando disser que vi Deus e ele era uma mulher preta".
A vingança, amargura e ódio são outras tônicas presentes, que fazem o antagonista pensar que tudo que Adonis conseguiu "pertence a ele", perspectiva comum quando pessoas pretas conseguem vencer. Parece que estão devendo algo a alguém (tipo virar Doutor, por exemplo).
Logo, enquanto estamos em nossas caminhadas, há (segundo o filme) pessoas maquinando formas de nos derrotar, de derrotar você que lê este texto... Nada de UBUNTU por aqui...
O protagonista ao ter que lidar com ecos da sua infância grita, chora, se desmonta... Homens negros também se despedaçam... Apesar da síndrome de Superman...
No mais, os fãs assíduos sentirão falta de Rocky Balboa... Mas Adonis precisava seguir seu caminho, sem orientação, e entender as responsabilidades de ser um campeão.
Curtiu? Que tal dar um "confere" no filme?
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* Pesquisador, professor, escritor e fundador do Observatório Carioca de Histórias em Quadrinhos. Doutor em Ciência, Tecnologia e Educação (CEFET/RJ) e Mestre em Relações Étnico-Raciais (CEFET/RJ).
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