
Por Ricardo Cortez Lopes*
Cientistas, obviamente, gostam de ciência. Só que, na sociedade, somos um grupo restrito; uma porcentagem pequena de pessoas se interessa por esse tema – é só você lembrar quantas pessoas o chamavam de NERD na escola. Se esse desinteresse acontece por falta de acesso ou por afinidade, é difícil dizer, pois não é uma questão que é possível investigar de fato.
A questão é que a divulgação científica é a crença que a falta de acesso é que restringe o número de apreciadores. Ou, mais especificamente, um acesso mais mediado e menos carregado de linguagem técnica, porque muitas pessoas desistem quando não entendem e vão fazer alguma outra coisa.
É óbvio que é possível também que o cientista aceite sua condição de nicho e se volte para as suas atividades. Porém, essa atitude é desastrosa: sem a falta de apreciação de outras pessoas ou se proliferam notícias falsas ou se esgotam as fontes de financiamento ou não aparece nenhum mecenas.
O cientista precisa saber vender o seu peixe, mas só tornar a ciência divertida vai conduzir a um consumo rápido e que termina assim que a experiência passa. Em vez de criar um ambiente, eu queria propor uma maneira de divulgar continuamente na vida das pessoas sem elas nem perceberem (que é uma maneira de não criar resistência). As minhas estratégias são duas: memes e comentários de interesses. Mas, antes disso, é preciso ressaltar que é necessário se ter um portfólio digital cujos acessos podem ser contados, pois o objetivo é que você possa refletir sobre a sua divulgação com base em resultados.
Um texto científico – seja ele um artigo, um livro, um capítulo de livro etc – é voltado para um público restrito, que já tem o olhar domesticado e conhece a linguagem técnica – e às vezes existem até trechos em línguas estrangeiras. Porém, mesmo assim, as pessoas vão o acessar se for para buscar algo do seu interesse, pois o interesse é que as motiva. A questão é ver a curiosidade em curso e então lançar o texto e, nesse caso, não é preciso nem mesmo produzir um novo conteúdo, o texto original é o bastante para divulgar o olhar científico.
Com relação aos memes, eles são altamente demandados na cultura brasileira atual, além de serem muito fáceis de se divulgar por serem imagens estáticas. No instagram, tenho uma página em que faço memes que servem para atrair as pessoas para algum texto: são memes já consagrados em que as imagens são adaptadas para tornar o texto algo que se considere clicar para dar mais sentido ao meme, como se fosse um quebra-cabeça. Por essa razão, o meme em si não é informativo: a informação está de fato no texto. Nesse caso, é preciso deixar o link por perto da imagem, pois o epicentro da atenção é a figura.
Com relação aos comentários em redes sociais, estamos partindo da ideia de inteligência coletiva, de Pierre Levy, pois as pessoas estão engajadas numa discussão para a construção de um conhecimento. No começo, eu criava postagens para as pessoas de algum grupo ou comunidade acessarem, mas isso não dava muito resultado, pois eu estava tentando criar a demanda artificialmente. Posteriormente, percebi que comentar em postagens criadas por outras pessoas já trazia uma demanda que estava pronta; e ao postar o comentário com o artigo os demais participantes recebiam notificações.
Com relação a esse modelo, eu daqui consigo ver alguns pontos positivos e negativos em minha jornada. De negativo, não tem como garantir a leitura – embora o meu portfólio faça uma contagem de páginas passadas, o que indica quem viu, no mínimo, o texto por cima –, e também é um modelo difícil de sustentar em uma ciência muito especializada como a nossa, além da demora dos processos editoriais alongarem a publicação dos textos. Outro ponto crítico é que o divulgador vai lidar com o público, então pode sofrer agressões – e se ele se importa com isso pode acabar se sentindo mal.
Mas existem alguns lados positivos: é prazeroso quando seus textos antigos ganham nova relevância diante de determinados acontecimentos; outra questão interessante é fazer laços novos com pessoas que você nunca teria acesso se não tivesse divulgado; por fim, perceber que pessoas acessam o seu trabalho no mínimo dá uma sensação de dever cumprido com a sociedade porque você transforma o texto em um conteúdo digital, em algo presente na vida das pessoas.
E você, o que achou desse modelo? Acha ele viável? Vamos trocar uma ideia!
Vamos nos seguir no academia.edu e montar uma grande comunidade: https://ufrgs.academia.edu/RicardoLopes
* Escritor e Pesquisador. Doutor, Mestre e Graduado em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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