Por Alexandre Gossn*
Saudações, amigos e amigas!
Concluída a apuração pelo TSE, podemos já concluir alguns pontos sobre as eleições no país com algum grau de segurança: muitos estudiosos das Ciências Sociais se apressaram em classificar as eleições de 2018 como PONTUAIS e FORA DA CURVA. Erraram. As eleições de 2022 demonstram que o bolsonarismo não é somente um movimento nascido do antipetismo, mas uma manifestação social autônoma.
Os resultados dos candidatos vinculados ao governo federal são impressionantes: 08 governadores já no primeiro turno, dois disputando o segundo turno como favoritos, mais de vinte senadores e ao menos 1/5 da Câmara dos Deputados.
O Brasil sempre foi um país conservador e refratário a grandes mudanças: fomos os últimos a deixar de ser monarquia na América, um dos últimos a abolir a escravidão, certamente não estivemos entre os primeiros a reconhecer o direito de voto às mulheres e analfabetos e demoramos em industrializar as cidades, criar a imprensa, instituir Universidades e reconhecer direitos trabalhistas.
Esse conservadorismo faz parte do ETHOS do cidadão brasileiro. O bolsonarismo era até alguns anos atrás um canal para expressão deste conservadorismo, mas ainda não era o representante que este movimento aspirava. Hoje, não mais.
Tudo indica que o bolsonarismo e o conservadorismo se fundiram no país, criando um movimento político de elevada octanagem, que desperta reações políticas apaixonadas e incita sentimentos fortes: patriotismo, família, defesa da propriedade e costumes menos liberais.
A verdade é que embora o Brasil tenha sido em rigor majoritariamente conservador, jamais um movimento social havia conseguido expressar tal estética política com tamanha eficiência e produzir uma máquina de vencer eleições tão azeitada.
Além dos impressionantes resultados nas eleições para Governador, Senado e Câmaras, o candidato à reeleição Jair Bolsonaro teve votação ainda maior que a das eleições de 2018 e, mesmo enfrentando uma frente ampla de 09 partidos, perdeu por meros cinco ponto percentuais.
Embora jamais um candidato tenha virado uma eleição no segundo turno na história do Brasil - e as eleições na Colômbia, Peru e Chile apontem uma dinâmica parecida com a nossa - numa disputa encarniçada, a vitória de Jair Bolsonaro nestas eleições é totalmente possível.
O país está FRATURADO em uma divisão que o recorta com uma linha DIAGONAL: Bolsonaro vencendo em quase todos os estados a oeste, norte (salvo AM, PA,TO e RR), sul e sudeste, salvo MG e o Nordeste. O candidato Lula terá que remar muito para tentar manter sua vantagem, porque a abstenção no segundo turno costuma ser maior que no primeiro, e, em geral, quem mais se abstém são os cidadãos que ganham até 02 salários mínimos, que votam maciçamente no candidato do PT.
Receber o apoio de Simone Tebet não significa receber os votos da candidata e o mesmo vale para Ciro Gomes: em ciência política, não existe garantia de transferência automática de votos. Bolsonaro, por seu turno, terá o apoio de inúmeros palanques de governadores já eleitos e parlamentares que venceram com centenas de milhares de votos.
Bolsonaro venceu em todos os estados do Sudeste e, mesmo que tenha perdido em MG, ainda pode ainda vencer por lá, visto que é provável receber apoio do governador ZEMA, e Minas, como se sabe, é o segundo maior colégio eleitoral e quase sempre decisivo: até hoje todos os presidentes eleitos venceram em MG.
O que dizer das Pesquisas Eleitorais?
Falharam miseravelmente.
Nem mesmo as pesquisas do INSTITUTO PARANÁ (instituto que recebeu verba do PL, partido do presidente, segundo notícias) lograram capturar a expressiva votação que Bolsonaro recebeu. Por isso, me parece não ser o caso de FRAUDE, mas sim de ERRO CRASSO, visto que não faria sentido TODOS INSTITUTOS ERRAREM, até mesmo os mais alinhados com o governo.
A resposta para estes erros crassos das pesquisas parece repousar na GEOGRAFIA e na DEMOGRAFIA: nosso país está sem CENSO DEMOGRÁFICO desde 2010; e um país sem censo é uma nau navegando a esmo, no escuro, sem bússola e carta náutica. Não sabemos quantos brancos, pardos, negros, heteros, LGBTQS+, homens, mulheres, católicos, evangélicos, espíritas, agnósticos temos no país.
Com a eclosão da pandemia e pagamento de auxílio emergencial, não sabemos sequer como são compostas em termos populacionais as classes A, B, C, D & E. Como conduzir uma pesquisa com rigor metodológico assim?
Como se sabe, pesquisas são como colheradas na sopa: você prova uma amostra (parte) para conhecer o todo. Se a amostra está desbalanceada, o todo será distorcido, o que claramente ocorreu.
Prevejo um segundo turno tenso, aguerrido entre os dois candidatos que vão se firmando como os dois políticos mais populares do Brasil no séc. XXI, e que gostemos ou não de um ou de outro já entraram para a História do país como líderes que conseguem transferir votos para seus aliados.
Ps.: Muito triste ver e receber manifestações de xenofobia em face do Nordeste e Minas Gerais por eleitores que não gostaram dos vencedores nestes Estados. O voto pertence a cada um de nós, mas o que faz o Brasil ser um pais incrível e único - e uma possível potência mundial - é justamente seu gigantismo e unidade territorial. Temos total condições de sermos autossuficientes em alimentos, energia elétrica, minérios e petróleo, e certamente não é separando o país que vamos ficar mais fortes. Ademais, sendo sulista ou sudestino, quem hostiliza os irmãos nordestinos revela falta de conhecimento da história do nosso país: o sul e sudeste passaram quase 300 anos sem ser grande destaque, e somente com o Rio se tornando capital, a descoberta de jazidas em Minas e o ciclo do café em São Paulo, o sudeste começou a se tornar economicamente poderoso. Pode-se dizer que por praticamente 400 anos, a geração de riquezas do país nasceu do nordeste. As coisas mudam, migram, mas o que não podemos perder de vista é que somos todos conterrâneos e estamos no mesmo barco.
Um abraço, paz e ótima semana!
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* Escritor, Pesquisador, Doutorando em Estudos Contemporâneos pelo Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra, Mestre em Direito Ambiental pela Universidade Católica de Santos, Urbanista e Advogado.
Com maestria de critérios e uma análise abalizadíssima, sua exposição reflete um fenômeno, na minha opinião desalentador, as últimas eleições estão deixando claro a vitória do "voto do preconceito", da falta de liberdade, da apologia à xenofobia, à homofobia, ao negacionismo e à velha máxima: a esquerda come criancinha e eu completo: a direita exclui o doente, o velho, o gay, o nordestino, ou seja, tudo que seja diferente.